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Porquê socialismo para o futuro?

  • Foto do escritor: poucointeressanteb
    poucointeressanteb
  • há 3 minutos
  • 4 min de leitura

            

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Provavelmente não há ideologia mais incompreendida que o comunismo. Já tive conversas com pessoas inteligentes e, na generalidade bem informados, que me diziam que que o Salazar era comunista, porque era uma ditadura, que a Rússia era comunista, apesar da URSS ter caído há mais de 30 anos, até que a Turquia era comunista, porque tinha uma bandeira vermelha. Parece-me que não haverá nenhum comunista que, assim que se declara como comunista, não é confrontado com mitos ou com comparações com virtualmente tudo de mal que alguma vez tenha sido feito por algum comunista.

Certamente há muito para se apontar nas experiências socialistas, passadas e presentes, é verdade que muitos foram os erros, as atrocidades e até as traições aos ideais comunistas, desde perseguições políticas, cultos de personalidade, falhas graves de planeamento económico, cinismo nas relações internacionais etc., também muitos foram os sucessos, elevar milhões da pobreza, melhoramentos notáveis na esperança de vida, na educação, apoio a movimentos anticolonialistas etc.  É impossível falar de um sem o outro, mas parece-me que na generalidade os falhanços do socialismo são enaltecidos enquanto os seus sucessos ignorados e o contexto ocultado (especialmente quando potencias ocidentais são culpadas de coisas semelhantes). Mas não é sobre isso quero falar aqui. Sem querer descorar a importância de estudar os exemplos do passado, parece-me hoje mais importante vermos o potencial verdadeiramente libertador dos ideais comunistas, ideias que hoje mais que nunca devem servir de farol para o nosso futuro. Vou-me focar para isso, sobretudo em três aspetos: desigualdade, a inteligência artificial e as alterações climáticas.

O facto de alguns deterem propriedade (capital) e com ele explorarem quem só pode viver da força do seu trabalho é o aspeto primário do capitalismo, aliás, para quem discordar que a exploração é um ponto básico do capitalismo que responda: porque iria um capitalista querer um trabalhador que não produzisse mais que o seu salário? Isto é particularmente gravoso quando vemos que a produtividade está a crescer a um ritmo mais elevado que os salários, em Portugal desde 1999 até 2022 a produtividade subiu 21.3%, já os salários subira 8.1%, nos EUA desde 1979 a produtividade subiu 60% e os salários 14%. O resultado disto é uma galopante desigualdade tanto em rendimentos como em riqueza o que, não só limita o crescimento da economia que tem uma procura reduzida, mas também coloca património nas mãos de cada vez menos, provocando uma vertiginosa subida no preço de bens, sobretudo na habitação.   

O futuro dificilmente vai trazer grandes melhorias. A inteligência artificial vai muito provavelmente criar um brutal crescimento do desemprego, alguns apontam para as inovações passadas e dizem que também aí havia o medo do desemprego em massa que nunca chegou. Esquecem-se que de facto a revolução industrial trouxe extrema pobreza para muitas comunidades, especialmente quem era expulso do campo para encher os bairros de lata urbanos onde a miséria e as condições degradantes proliferavam (e que hoje vemos a surgir novamente). Esquecem-se também que o aumento de produtividade só beneficiou as classes trabalhadoras quando estas se organizaram, e lutaram, muitas vezes com grande custo pessoal, pelas 8 horas de trabalho, pelos sistemas públicos de educação e saúde, por habitação digna, por melhores salários. Tudo isto foram conquistas que custaram o sangue de muitos, arrancadas aos capitalistas muitas vezes sob a ameaça de Revolução.

Esquecem-se também, que o aumento de produtividade só não leva ao aumento do desemprego se houver aumento da produção. Se um trabalhador, com ajuda da IA, produz hoje o que ontem produziam dois, ou a empresa vende o dobro ou despede um dos trabalhadores. Bem, para vender mais é preciso, primeiro: mercado de escoamento, que numa altura em que a grande maioria das pessoas se vê pressionada pelo aumento dos custos de vida é duvidoso; segundo: é preciso recursos para a produção, sejam estes matérias-primas ou, numa economia cada vez mais digital, energia, basta ver o absurdo consumo de eletricidade dos “data centers”. Esta realidade torna-se verdadeiramente assustadora quando vemos o estado devastador em que o nosso ambiente se encontra, numa marcha constante da humanidade para a destruição ambiental, presa a um sistema capitalista que precisa de crescimento constante para se suster mesmo a custo do nosso futuro em nome da taxa de retorno dos investidores.

Há para isto uma solução, podemos reduzir o consumo, não para vivermos como monges, mas descartando o consumismo desenfreado. Com a IA podemos até aumentar a nossa produtividade, não para substituir a humanidade, para a ajudar a reduzir a necessidade de trabalho, libertando os seres humanos para serem humanos e não peças do sistema produtivo. Mas isto não é possível dentro do capitalismo, onde para reduzir o consumo se aumentam os preços, mantendo os ricos livres para continuar a consumir, mas tirando aos pobres o que muita vez mais necessitam.

O capitalismo teve o seu importante momento histórico, permitiu um aumento de produção muito acima do potencial feudal, capaz de alavancar a era de abundância que em que vivemos, mas hoje, não há maior ameaça ao nosso futuro que o sistema capitalista. Produzimos que chegue para vivermos todos bem, chegou a altura de decidirmos o que queremos: uma sociedade de consumos desenfreado de bugigangas mas em que faltam bens essenciais como a habitação, uma sociedade em que alguns podem possuir jatos privados e outros nem sabem como chegar ao fim do mês, ou se queremos sociedade livre de exploração, em que todos têm trabalho mas que todos trabalham menos, em que os grandes meios de produção são colocados ao serviço de todos e não de uma minoria e que são usados para levar humanidade para um futuro melhor e não para o seu fim.

 
 
 

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