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À esquerda o que fazer?

  • Foto do escritor: poucointeressanteb
    poucointeressanteb
  • há 4 minutos
  • 3 min de leitura

           



  


  Quando analisamos as eleições há uma coisa que temos todos de reconhecer: a esquerda perdeu e perdeu muito. Em 2015 a CDU e o BE juntos obtiveram perto de 20% dos votos e 36 deputados, 10 anos mais tarde, juntos conseguem 4, aos que se pode eventualmente juntar os 6 do livre. O PS (que dificilmente teve uma gestão de esquerda enquanto no poder) tem uma queda ainda mais significativa, perdendo 62 deputados em 3 anos. O surgimento de terceiras forças políticas de grande dimensão na Assembleia não é novidade. Em 1976 o CDS tinha conseguido 42 deputados, o PCP (na altura na coligação APU) conseguiu a eleição de mais de 40 deputados consecutivamente entre 1976 e 1983, e brevemente em 1985 surgiu o PRD com 45 deputados. O surpreendente é o Chega conseguir no mínimo 58 deputados custando principalmente ao flanco político contrário, deixando a esquerda severamente desfalcada e resultando numa vitória histórica para a direita.


          Com o novo quadro político a probabilidade do PS apoiar o governo da AD é grande, criando um bloco central de facto que coloca o PSD no centro do espectro político e retira o PS da oposição. E o que pode fazer a esquerda neste cenário?


Bem, cabe à esquerda voltar a animar as forças sociais que no passado a apoiaram. Não é certamente fácil, há claros obstáculo que hoje se colocam. Como a exaltação da questão da imigração para o primeiro plano apelando ao medo dos estrangeiros, muito a reboque de campanhas nas redes sociais (vejamos como em alguns subreddits a barragem de conteúdo anti-imigração é inescapável) que beneficia as forças mais reacionárias e prejudica as forças de esquerda que tradicionalmente veem a luta política como uma luta de classe e não de etnias; ou o clima belicista que prejudica principalmente a esquerda que nunca conviveu bem blocos militares. É ainda notório o crescimento de ideologias individualistas e conservadoras nas redes sociais e nos media, muitas vezes apoiadas em reinterpretações da história que obscurecem o papel da esquerda e sobretudo do socialismo nos grandes avanços da História (em Portugal não haverá melhor exemplo que a exaltação do 25 de Novembro dando-lhe uma importância quase equiparável ao 25 de Abril, algo que falei em mais detalhe aqui). A própria expressão “socialismo” é deturpada para significar tudo o que é mau e não apoio (algo sobre o qual escrevi aqui). Vemos ainda o surgimento de forças de extrema-direita por todo o mundo, com especial destaque para os EUA onde o ICE persegue, captura, e deporta imigrantes inclusive condenando e enviando pessoas para prisões que mais parecem campos de concentração sem julgamento.


          Mas o avanço da extrema-direita não significa que a esquerda está perdida, a história mostra que as forças políticas avançam e recuam constantemente, e as causas pelas quais a esquerda combate não desapareceram. A pobreza não desapareceu, as desigualdades não desapareceram, o mês a mais para o salário a menos não desapareceu, o grande capital rentistas que vive à custa de quem trabalha não desapareceu (vejamos os brutais aumentos de lucros dos bancos), a habitação dificilmente encontra solução só no mercado, a imigração e a integração dos imigrantes não se resolve com demonização dos imigrantes, as alterações climáticas (hoje quase esquecidas) ainda estão a acontecer e a guerra vai custar sempre ao pobres e não aos ricos.


            Exige-se à esquerda respostas coerentes para estes problemas e, na minha opinião, pelo menos no curto prazo, exige-se reflexão sobre uma coligação dos partidos à esquerda, que apresente um programa ambicioso, mas coeso, que traga de volta a animação em torno das ideias de esquerda, que permita voltar a sonhar com um mundo novo, onde os nosso direitos básicos sejam garantidos, onde, como canta o Sérgio Godinho, haja liberdade porque há “a paz, o pão, habitação, saúde, educação”. Mundo esse que precisamos para enfrentar os desafios que se preveem: a quebra demográfica; a provável desvalorização do trabalho fruto da IA; a luta pela justiça social, económica e ambiental; a luta contra as ideias fascizantes; a luta pelo meio ambiente e por um mundo onde possamos usar a tecnologia não para nos alienarmos, mas para nos aproximarmos, um mundo em que não vivemos para trabalhar, um mundo onde toda a gente possa trabalhar mas trabalha menos horas, onde temos tempo, recursos e energia para nós e para as nossas famílias.    


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